segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Agora é para Sempre...


(Publicado como "Jornalismo" - Um Conto de Déia Tuam)

Depois de tantas doses de wishky ou wyhski ou Kasinski ou Blavatsky ou Leminski ou Bukowski ou wodka ou cerveja mesmo, ou pinga até...
Acho que finalmente estou bêbado.
E tantas coberturas de muros berlinescos e sujeitos gorbachevescos com manchas escorrendo pela testa, e charutos cubanos e debates cisjordanianos, e aquela cobertura de imprensa onuesca, tu foste? Não? Eu fui, eu achei que te encontraria lá, com o teu marido. Não? Ele não passeava contigo?...
...Tsc, tsc, pois eu te puxaria logo para um daqueles banheiros enormes dos prédios israelenses.
Muito trabalho? E tu ficavas sozinha em todas aquelas viagens?! Bah. Hunft, este índio velho aqui não te deixaria ir sozinha. Não mesmo, não com essas belas pernocas.
Nem vem, foste tu quem me puxaste o tapete, quem terminou tudo foi você.
Claro, aqui nesta cama tudo fica mais fácil, tu vais me dizer que éramos jovens demais, a mesma baboseira de sempre.
Mas hoje, depois de vinte e dois anos, desde aquele 17 de dezembro em que nos conhecemos, hoje eu tinha vindo aqui pra te pedir em casamento, minha guria. Agora que nos reencontramos nesta cama, eu nem sei em que posição eu peço a tua mão.
Tu te casaste, eu também, fugi pra outro país para livrar-me de ti, cobri negociações, abertura de postos de gasolina e inauguração de caixa d'água para livrar-me de ti. Mas entonces nos reencontramos. Como tu disseste que seria. Ahh, sim, lembro de tudo.
Quando eu te liguei e tu não podeste ir na minha colação de grau da faculdade.
Quando tu chegaste pela primeira vez em minha casa. Que lindo aquele teu vestido de chuva, guria. Que bom que naquela tarde choveu...
E quando tu disseste que iria me procurar, quando tivesse "pronta". Só não te mandei "ir à merda" porque sou sujeitinho cristão. Mas tu me falavas cada coisa naquela época. Mas senti falta quando eu tive que tomar uma decisão na minha vida e não ouvi mais tu falares. Senti falta, tu sabes disso.
Agora nesta cama não te nego mesmo nada, nunca neguei.

Está vendo esta aliança aqui?
Eu fico feliz pela tua correria em me ver, mas por que a pressa, por que a pressa. Entonces tu te levantas daí logo, com esta mesma pressa, te levantas desta cama, pra eu te jogar logo em outra, porque eu não posso te ver assim. Não posso. Eu ainda estou ouvindo esta tua voz gostosa no meu ouvido, e esta aliança aqui, levanta logo para eu te levar para igreja, tu vais odiar, eu já tenho tudo planejado, vou fechar o pacote completo, igreja, bufê, coxinha, tudo o que tu adoras. Levanta daí e me chinga logo. Diz que "igreja, não".
Quando eu vi o teu carro todo destruído, achei que tu merecia coxinha bem engordurada no nosso casamento pelo susto que me fizeste passar...
... Estou bêbado, sim. Mas nada me anestesia agora, guria. Nada.
Tu não vais me deixar aqui! Neste mundo vazio, desmesurado, onde eu tanto te busquei. Tu me disseste um dia "eu teria ficado louca se tivesse nascido tarde demais pra te encontrar".
Eu lembro daquele olhar gorbachevesco que tanto abriu os olhos de uma política para o resto do planeta ao seu redor e eu vi aquele mesmo olhar andando cabisbaixo na tarde da derrota nas eleições. Eu estou com esse olhar agora, guria, tanta pressa em me ver e tu quis beijar uma porra de um poste?!
Cumpre tua palavra, anda. Levanta.
Tu disseste que iria me encontrar quando estivesse pronta.
Não vai embora de novo.

Esta aliança é tua, minha guria.
Para sempre, sem delírios ou inseguranças agora.
Agora é para sempre.
Levanta daí.

2 comentários:

Knidea_a_loura disse...

Cursivo, descontraido e de certo muito sentido!
Gostei, acima de tudo pelo que fica por dizer, pela vida que me deixas imaginar. No amor EU NÃO ACREDITO!
Nina, não estou surpreendida. Apenas bem impressionada.
Eu te "amo", minha irmã!
Lena

E PLURIBUS UNUM disse...

Olá Nina, estou sem palavras.
Belo demais para se perder.
Bjs,

 

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