quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Tu és... tu



Era uma vez…

Era uma vez um grão de areia, companheiro infinitésimo de outros tantos na agrura inóspita de um imenso deserto.

Certo dia, porém, animando-lhe uma força a alma, sentenciou aos seus pares:

- Eu hei-de sair deste deserto!

- Tu, um nada?!... Tu és um mero grão de areia e a tua vida é neste deserto. Nunca sairás daqui!
retorquiram com escárnio os outros grãos.

Mas nada o esmorecia:

- Falai o que quiserdes! Eu digo-vos, é minha fé, que hei-de sair daqui!...

Os outros riram-se às gargalhadas, zombaram dias a fio, reduziram-no à quase inexistência. A alma, porém, crescia-lhe em coragem e determinação:

- Um dia… um dia será…

… E, um dia, uma feroz tempestade abateu-se sobre o deserto. Aterrados, todos os grãos de areia deram as mãos entre si, agarrando-se com toda a força para não serem levados pelo vento. Todos o fizeram… menos um.

Com a confiança firme que o animava, o grão-nada soltou-se dos outros e deixou-se levar pelo duro vento durante muito e muito tempo. Dias volvidos, a tempestade cedeu lugar à bonança.

Suspenso, até aí, numa nuvem sobre o oceano, o grão viajante mergulhou nas águas profundas, anichou-se numa ostra e transformou-se numa pérola.

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© 2009 Philia | por JAMOS